sábado, 28 de julho de 2012

Composição fotográfica

Composição feita para acompanhar um dos poemas do poemario " Bosquexo dunha perna que pretende tirar para diante" (Cruz Martinez) 

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Um comentário:







  1. Escama puxa escama...
    Ah tempos de força, de coragem. Não éreis vós que me controlavam. Saúde não me fugia, excumungava-a . Que cavalo que eu era…, e o meu filho bem notava. Mesmo sem me irritar, tombava-o à primeira pancada. Dava-me cá gosto em fazê-lo… Eu bem tinha dito à mulher que ela era a culpada. Vá lá um homem entender estas fêmeas que clamam…. Clamam por filhos. Bom, se ela o engendrasse sozinha…. Aparecia com ele em casa, e ao menos poupava-me de esforços. Não atino com ele, que vá viver ao caralho! E de nada adianta todos estes anos de reflexão e tolhimento, sou casmurro e não mudo de gases. Se um dia morrer ele será o verdadeiro testemunho em como já tive, bastante energia. E até fico estupefacto como ele conseguiu emprenhar a mulher, tão raquítico que é,
    Agora dizem para aí que já estou podre, que borrifo sangue. Acho que o meu hálito metálico justifica alguma saúde. E esta treta de ontem me transportarem ao B.C.G., por si só não me amofina, Diz o internado da cama 6 que é por causa dos pulmões. Que conhecimentos médicos terá ele para analisar os borrifos de sangue que às vezes do ar lhe caem no focinho?... Perneta! Deve ser tuberculose… Mas ar não me falta. Agora cabeça… vai-se arranjando. Depende do que se pensa ou do equívoco. Tantas vezes solicitamos a mente… Já aconteceu querer lembrar-me de quem não me visita e encontro na mente puras abstracções simiescas. Até em questões de identidade própria, com o calor humano. Por exemplo, o da cama 6 só tem cotos nas pernas, coitado foi trucidado por ser bom demais. Costumo desejar-lhe coisas da arte do camanho. Há dias grunhi-lhe para se levantar e trazer-me a aparadeira. Rápido o tipo respondeu-me que eu era cá um gozão… Mas retorqui-lhe logo, com determinação, que estas palavras maldosas não eram minhas, mas sim que imperava nelas a inocência, e que tinham saído do buraquinho da prótese. Atónito e fanhoso falou deste modo – como é que aconteceu isso?... – e gesticulei-lhe então com um dedo, que o buraquinho tem uma palinha, e que por sorte de deus, sabe-se lá, o ar ao passar por ali assobiara, que se mudaram as palavras e que os complexos dele haviam feito o resto. Que faça como eu, que não emprenhe pelos ouvidos , que aproveite o tempo para se coçar. No coçar é que o metabolismo se mantém; escama puxa escama. Ele é que está senil…!
    ......V.L.

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